Poemas da quarentena #4
Entre quatro paredes esse medo fica visível, próximo, mais evidente. Assim como fica mais tênue o limiar entre a sanidade e loucura.
Entre quatro paredes esse medo fica visível, próximo, mais evidente. Assim como fica mais tênue o limiar entre a sanidade e loucura.
Abraçar o silêncio é também uma forma de existência, a ausência de voz também quer dizer algo.
Uma pandemia é tragédia que afeta pessoas de formas diferentes. Mas, em muitas e muitos Indígenas, ela acorda traumas geracionais.
as maritacas de tanto que gritam ninguém ouve e na permanência do som no silêncio dos surdos é que elas são elas
Irmanadas no desejo de cura coletiva, cuidamos, por estes dias, em aquietar as palavras na página como forma de resistência e espera.
Não te importa o claro ou o escuro desses destroços ou se sou eu que aqui habito ou se são as baratas da louça tanto faz né?
com a mesma mão que assino documento cheque recibo de hotel a contracapa dos meus livros
em charque estendida ao sol salga os olhos dedos encardidos estouram-se bolhas debaixo dos pés quando se justo fosse seriam sabões
o coque firme do dia inteiro repuxando a raiz de todas as coisas
Estou náusea rastejo entregue a ratos baratas em mau barato junto às serpentes
Entro nessa casa mil vezes já morei aqui a minha pele lembra de cada espaço
é preciso chover. deixar-se banhar da água-sal de que é feita a lágrima.
hoje eu tive meu primeiro ataque de pânico. eu chorei e não sabia que quando alguém tem ataque de pânico chora.
Os contos integram a obra "Desastrada e outros contos breves" (2019), publicada pelo Mulherio das Letras.
Com uma escrita metódica mas repleta de criatividade, Aline Martins, poeta de longa data, estreia com "Grão".