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Quatro poemas de Sarah Israel


©Unsplash

eu corpo morto

eu corpo anticorpo

flores d’uma estátua

em pedaços

eu corpo torto disforme

na língua nos olhos nos braços

vislumbro teu corpo conforto

inundo enorme

tu meu porto

eu teu corpo.


Olhos escuros

Olhos amendoados e cerradinhos

íris de um castanho escuro brilhoso

e bem lá no meio

um pontinho branco

eu me encontro estando

há luminosidade no breu

olhos escuros quase como os meus

pálpebras cansadas

de uma vida inteira caminhando

mas não profundas

nuas sempre nuas

com poucas olheiras

e imperceptíveis veias

olhos apertados sorridentes

de cílios a decorar

não há quase rugas

não há nenhuma dúvida

olhos de quem sabe me amar

Trinta e quatro anos pra sempre

mas se não vês nítidos

os olhos que te pinto

não te inquietes

saibas que pela foto

também não me distinguem

mas sei que estão lá

os mais lindos olhos escuros

que existem.


Me recrio com tinta a óleo

na tela de vidro

do quarto

grudo cacos de pano

nos olhos e uso pincéis

cílios lábios

medos

mãos tons pastéis

preto ecosolv

máscara loratadina.


Desconheço clássicos afagos

esqueço detalhes

roupas sina

arranho a dura pele

quente de sol

de resto respiro reflito refrato

cristalina.


Vejo a chuva que se forma

colorida

gotinhas que em mim não encostam

decoram

sorrio e me reúno aos pedaços

e modos com o corpo vestido

assim como a tela

de tinta a óleo.


as mãos que me calam as palavras,

as mesmas que me falam no toque,

dançam a cada pedaço

arrancam gemidos

que faço

são mãos que me veem

na penumbra

mãos desesperadas

dedos treinados

dedilhados

tensão pura

encontro-me desarmada

peço que elas me abram

no meio

do peito

do anseio

sem receio.


canto com olhos

as lágrimas

pelas adoradas mãos

que me passeiam.


_

Sarah Israel pode ser muitas coisas e nada também. Pode ter graduações no público e no privado, tentativas mil de muito ou pouco, pinturas em quadros, até parto, anel, o chão e o céu. Mas o que a importa é que seja lida. Lida porque é assim que consegue transmitir alguma emoção, deixar um pouco de si, sem nem saber quem a toca pelos olhos e a comporta ali dentro, dando algum sentido ao que fora lido de si.

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