rubro
com a mesma mão
que assino documento
cheque
recibo de hotel
a contracapa
dos meus livros
com a mesma cor que passo
em meus lábios
maçãs do rosto
verniz do chão antigo
é a mesma cor
em tantas nuances
texturas
rubro pássaro-coágulo
escorre rio-cachoeira-oceano
em tantos
rostos, pernas
mãe lua
com sua paleta
acalenta
os espasmos
as dores
as lágrimas
tremores
eu tremo
tu tremes
ela treme
solvente
dissolve
o que não veio
a culpa se vai
os anos de
silêncios escondidos
entre panos-copos-fios
os anos que ainda
silenciam
comprimidos
em um órgão
sem autonomia
corriqueiro
os barcos mansos flutuam
sobre os barcos agitados
levo as ondas efêmeras
que ondulam no pêndulo da língua
escassa de linearidade
levo os olhares
turvos
levo os peixes
mortos
levo a batalha de existir
em todos
em mim
na ponta do lápis
acácia
me decepciono com os significados nos caminhos para a casa
– e são tantos três mulheres na via com o carro quebrado acenam para avisar – são ajudadas porque são
mulheres a mulher silenciosa em seus anseios porque lhe ensinaram a ser assim
"não fale demais para não incomodar"
os homens – não a ajudaram porque é mulher Elas só queriam ser donas de seus exílios e de suas vozes.
2.
vivo momentos
e aqui na minha frente
nesse bar
uma mulher
vestido estampado
de pinhas em miniatura
batom vermelho
cabelo em coque
se lança
sobre a mesa de sinuca
ensaia um soco no ar
sai pela porta da frente.
_
Julia Neiva é poeta e doutoranda em Literatura pela UERJ.
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