Várias: seis poemas de Lita Sahun
Atualizado: 20 de abr. de 2020

as maritacas
de tanto que gritam
ninguém ouve
e na permanência do som
no silêncio dos surdos
é que elas são elas
***
ontem vi a apatia. sentada na poltrona. cabeça baixa.
mórbida. pés unidos em um só. esteve assim. e seu
único ato foi levantar os olhos e mirar os meus.
***
obcecado por todas as respostas
enferrujou-se o cadeado
trancado nas perguntas
o menino chorou
apagada a memória
a chave emperrou
dono das soluções
o homem dormiu
a mulher acordou
***
finge doçura
arranha a parede
destrói a pintura
***
rio que flui
espaços contínuos
acelera por dentro
e demora a estancar
sangue revolto
pede passagem
esquece da hora
e volta a sangrar
sai sem demora
suja o tapete
esquece da volta
tende a escapar
volta depressa
corre a entrar
escura é a cor
e pode manchar
vermelho que impõe
rasgando essa fibra
pode sair
mas prefere ficar
***
nem sempre escrevo
há vezes em que olho o azulejo
branco
ininterrupto
e vejo palavras
vazias
escorrerem pela parede
_
Lita Sahun é escritora, atriz e professora. Estudou Letras pela UFRJ e Artes Cênicas pela Escola Estadual Martins Penna. Várias é seu segundo livro.