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Quatro poemas de Lorena Medronho


© Unsplash

23.

surgiu uma mariposa no meu banheiro

há alguns dias, bem pequenina,

menor que a unha.


ela fica no mesmo lugar:

toalha da minha avó.


parada.

o dia inteiro.


e às vezes, enquanto

eu mijo, ou

enquanto eu cago,

ou enquanto escovo os dentes,


fico ali olhando para ela.

e até creio que ela olhe para mim também.


fico ali buscando significados para ela.

e até creio que ela faça o mesmo.


relativizando e contextualizando toda uma vida,

refazendo e reinventando todos os passos.


e a mariposa ali,

como quem passa pelo mesmo lugar todos os dias,


mas só olha pelo rabo do olho.


me lembra você.



34.

queria eu

ser uma dessas maçãs,

oxidando à janela,

reconhecendo seu fim.


em silêncio.



37.

o ano

passou

como um rato

nas noites escuras,

onde

só ele vê a si mesmo,

e todos dormem.



44.

traçar uma linha percorrendo suas curvas,

conectar os pontos das suas costas e

formar constelações.

te escrever um poema sobre

bares, montanhas e cachorros.

comprar uma van e

fazer ovos fritos.

comer os ovos fritos

ter filhos e nomeá-los

com l ou i ou a ou u ou g,

comprar verduras

e transar à noitinha

enquanto o sol se põe,

ou de manhã, enquanto ele nasce,

ou quem sabe à tarde,

quando o céu é rosa.


_

Lorena Medronho tem 22 anos e mora no Rio de Janeiro. Poeta, contista, pesquisadora e cientista ambiental em formação, já teve dois livros publicados em coletânea com a FLUP e atualmente está prestes a lançar sua primeira obra solo: Me avise quando for desligar a luz.


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