Tudo que não consegui salvar
O primeiro dia de aula
os outros dias
a escola
e todas as escolas
foram sete.
as eleições
os cachorros
o almoço do meu aniversário de 18 anos que papai salgou
meus 18 anos
as casas demolidas
a casa do bicheiro
que era a minha favorita
as calçadas de grama
as últimas lâmpadas amarelas do meu bairro
meu bairro.
a cidade de onde vim
os negócios de família
o coleguismo que não cultivei
os ex-casais amigos
as separações
os divórcios
vovô no Réveillon de 97
a caneca que a vizinha me deu
o mIRC
o bonde da Cantareira que eu nunca andei
as ferrovias
o vestibular
o Nauru que todo mundo usava
menos eu
a Dilma.
Frei Tito
Claudinho
Robin Williams
o pingente de ouro que eu mordi por impulso
[de coração oco
o instante em que me arrependi
e todos os outros impulsos
[que não seguro porque é impulso
meu CPF
o concurso público
o abrigo de menores
os menores,
nossos pais
a infância
a vida adulta dela
ela
Último poema
Por que ir embora de você
se eu sei que o fim
é certo pra nós dois
Por que ir embora de você
se é de mim que eu fujo
e é comigo que desejo acordar
todos os dias
Por que ir embora de você
se o que perdi é o preço que pago
por ter alguém com quem declarar o Imposto de Renda
Por que ir embora de você
se o que eu quero
é ainda mais de nós
Por que então ir embora
se o que espanta
é ver alguém amando o que já tem
e se te amando é que percebo:
há mais Carl Bruner no mundo
do que Sam Wheat
Ainda que te amar seja te procurar
nas entrelinhas dos dias de semana
e só te encontrar aos sábados
porque só quem ama sabe o peso de uma segunda-feira
é por na balança
o fim do mundo
e o Big Bang
Eduarda Vidal nasceu em Niterói/RJ, em 8 abril de 1989. Psicóloga que trabalha com Publicidade há 10 anos, com especialização em Cinema e Imagens Contemporâneas. Apelidos de infância: Wandinha Addams e Carrie, a estranha. Escreve poesia por dignidade, já que o trabalho – com marketing – tira quase toda. Em 2019, publicou o livro Subestimados, poesia e jiló (editora Patuá).
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