Dias perfeitos
em um poema perfeito nós acordamos cedinho quase junto ao sol da América do Sul
você escolhe café eu leite com Nescau
depois pego os pães franceses murchos
de dias guardados numa sacola plástica
a farinha, você diz, pra dar liga e não esfarelar
amassamos a mistura uma gororoba é feita
nem pastosa nem seca porque
temos uma finalidade
caminhamos no paralelepípedo
em seguida na beira nos equilibrando
com varas de bambu em mãos
e o tempo do mundo a nosso dispor
pensávamos
away wasting time watching
sentada calmamente à beira da baía
pesco um filhote de tilápia
é muito pequena, você diz, tirando o anzol da boca dela
jogue ela de volta e
minhas mãos seguram um corpo tão gelado quanto o seu (quando beijo sua testa)
assistimos a ela se balançar para longe de nós
você poderia ser um peixe, eu escrevo, um tucunaré úmido
sua pele inadequada à superfície
nadando com a correnteza de um rio cristalino
fugindo dos anzóis
mas cá estamos dois pescadores esperando o final de um dia perfeito
assistimos a ela se balançar para longe de nós
você poderia ser um tucunaré úmido
a pele inadequada à superfície
com a correnteza de um rio cristalino
os anzóis balançando
e os botos em esconderijos
nós dois fluindo com a água e o tempo
Júlia Goromar nasceu em Campos dos Goytacazes, é feminista, trabalha com direitos das mulheres e escreve poesia.
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