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8M: 12 iniciativas independentes que fomentam a literatura feita por mulheres nas mídias sociais

Atualizado: 29 de mar. de 2020

© Gabriela Mendes

O movimento de leitura voltada para a literatura produzida por mulheres começou, no Brasil, a partir do Leia Mulheres, em 2015, com as amigas Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques, sob a influência da iniciativa de Joanna Walsh, com o #readwomen2014. O engajamento desse clube de leitura teve uma proporção tão grande durante esses cinco anos que "está presente em mais de 120 cidades brasileiras e tem mais de três mil livros lidos nos seus quatro anos de existência",¹ e só tende a expandir cada vez mais. Outro clube de leitura que vem ganhando destaque nacional é o Clube Lesbos, cujo objetivo é disseminar e discutir filmes e livros com personagens ou autoras lésbicas. Atualmente, os encontros acontecem em Curitiba, Goiânia, Guarulhos, Salvador, São Carlos, São Paulo, Recife e Vale do São Francisco. A iniciativa também produz conteúdo que auxilia na preservação e conhecimento da cultura lésbica e organiza saraus exclusivos para mulheres, com foco em lésbicas e bissexuais. Há também as Mulheres que Escrevem, uma iniciativa que começou em setembro de 2015 como uma newsletter criada por Taís Bravo e Natasha R. Silva, e, posteriormente, passou a contar com Estela Rosa e Seane Melo. O projeto inclui colaborações de mulheres escritoras e artistas em geral, tanto na plataforma virtual quanto em eventos literários em feiras, livrarias e universidades.


Além dessas iniciativas conhecidas por grande parte do público leitor – sobretudo as mulheres engajadas na disseminação da literatura feminina –, há também outros projetos acontecendo nas mídias sociais, que ainda não recebem o mesmo destaque, mas possuem grande relevância no universo das letras. Logo, a breve pesquisa realizada a seguir tem o intuito de citar apenas algumas das muitas colaborações ativas nas redes:


Autoras da História

@autorasdahistoria


Idealizado por Luísa Cortés e Bárbara Gaspar, tem como objetivo disseminar e resgatar a memória de grandes autoras que sofreram apagamento ao longo de sua vida (e muitas delas nem mesmo tiveram o famigerado reconhecimento póstumo). Passeando pelo feed, encontramos histórias de escritoras como Cassandra Rios (a autora mais proibida da ditadura militar), Madame D’Aulnoy (criadora do gênero contos de fada) e Flora Nwapa (autora de Efuru, primeiro livro a ser publicado por uma mulher nigeriana). O perfil é agradável de ler, pois os textos dos posts, apesar de muito informativos, são breves e nada enfadonhos, combinando perfeitamente com a proposta do Instagram. As seções dos destaques dos stories são separadas por continentes, tornando as informações fixas ainda mais organizadas e visíveis.


Flora Nwapa


Respeita! Coalizão de Poetas

@movimento_respeita


Composto por trabalhadoras que escrevem, pesquisam, traduzem, performam, editam e publicam poesia, o movimento começou a partir da repercussão de um episódio de misoginia em um evento do sarau CEP 20.000, no Rio de Janeiro, e que se desdobrou virtualmente ainda alguns dias depois do acontecimento, por meio de distorção e relativização dos fatos a partir de poetas homens, como forma de proteger o homem acusado e diminuir a dor da mulher vítima. Como forma de protesto, houve comoção imediata das poetAs frequentadoras do evento, que fizeram uma nota de repúdio e, posteriormente, a estruturação do texto do coletivo, assinado por 70 mulheres artistas, entre elas as que encabeçaram o movimento: Maria Isabel Iorio e Adelaide Ivanova. Em 2019, lançaram a publicação independente São nossas as notícias que daremos.


@movimento_respeita


Chicas que Escrevem @chicasqueescrevem


Iniciativa fundada pela escritora e filósofa Laura Elizia Haubert (autora de Memórias de uma vida pequena & outros livros), que, por meio de entrevistas semanais, procura dar visibilidade a escritoras que encontram dificuldade em disseminar suas obras em veículos da grande mídia. O projeto começou no dia 1º de outubro de 2019, sendo a primeira entrevista publicada no dia 4 de outubro, e hoje já conta com dezoito colaboradoras entrevistadas e 992 seguidores no Instagram.


Assine a newsletter para receber as entrevistas diretamente na sua caixa de entrada do e-mail: <https://mailchi.mp/1e9be756e1e0/chicasqueescrevem>.


@chicasqueescrevem


EuLittera

@eulittera


A ideia surgiu quando a idealizadora Amanda Titoneli percebeu que, apesar de sempre ter sido uma leitora assídua, quase não havia lido livros escritos por mulheres até então, e que, por conta disso, todos os seus autores favoritos eram homens. A partir dessa autoanálise, lançou-se a um desafio pessoal, mas com influência coletiva: direcionar mais a sua leitura para literatura feita por mulheres e incentivar outros leitores com as divulgações dos livros por meio de breves resenhas em sua conta do Instagram. Além disso, Amanda lança desafios interessantes para que seus seguidores fiquem atentos à necessidade de ler mais livros escritos por mulheres. A idealizadora cita, em um de seus posts, que “desde 1901 foram concedidos 114 prêmios Nobel da Literatura e, de todos eles, apenas catorze mulheres foram laureadas”. Logo depois, lançou o #desafiomulheresnonobel, que consiste na leitura e resenha, produzida por ela, ao final de cada mês do ano de 2020, das apenas doze vencedoras do Nobel cujos livros foram traduzidos para o português, com espaço para debates sobre cada um na caixa de comentários dos posts, como um clube do livro virtual.


@eulittera


Novas Clarices

@novasclarices


“Um lugar para conhecer as novas escritoras brasileiras.” O feed é muito bem estruturado: a fila do meio é composta de fotos em preto e branco, com uma máquina de escrever (aludindo, talvez, à literatura já estabelecida) adornada por livros de autoras conhecidas e renomadas (mesmo que esse reconhecimento tenha sido póstumo), como Clarice Lispector, Hilda Hilst, Maria Firmina dos Reis, Adélia Prado, Carolina de Jesus etc. Já as filas das extremidades são coloridas e levam títulos de autoras contemporâneas, algumas já muito conhecidas e prestigiadas, como Cidinha da Silva e Conceição Evaristo, e outras que ainda caminham rumo ao desanonimato com suas potentes obras. Os destaques dos stories são igualmente organizados, como o “Escritoras”, que consiste em apresentar de forma mais detalhada a escritora analisada, com minibiografia, publicações, premiações e temas recorrentes em suas obras; e o “Entre aspas”, que são fragmentos grifados dos livros divulgados pela idealizadora.


@novasclarices


Pretas que Escrevem

@pretasqueescrevem


Idealizado por Raíssa Haizer (escritora da @poesiaretinta), é um perfil que aborda, desde dezembro de 2017, autoras que dispensam apresentações devido à sua grande relevância literária, mas que, mesmo assim, ainda são subestimadas por entidades elitistas como a Academia Brasileira de Letras. Aparecem por lá nomes de peso e que incomodam a classe burguesa, como Conceição Evaristo, Toni Morrison, Chimamanda Ngozi Adichie, Miriam Alves. Raíssa também divulga eventos literários em que escritoras negras marcam presença e promove indicações de livros infantis para crianças negras, além de montar um planejamento de leitura mensal e compartilhar suas escolhas com seus seguidores. Em janeiro deste ano lançou um desafio de escrita (#desafiodepreta), que consiste em produzir um poema ou quinhentas palavras por dia durante dez dias. Várias pessoas se engajaram nessa proposta e o resultado dessa interação está num dos destaques do perfil.


@pretasqueescrevem


Clarices e Marias

@claricesemarias


Idealizado por Michelle Lopes, graduada em Estudos Literários e mediadora do Leia Mulheres Campinas, o projeto procura disseminar a cultura produzida por mulheres, sejam elas artistas conhecidas e renomadas ou independentes e ainda desconhecidas do grande público. O feed é agradável e traz breves resenhas que podem ser lidas na íntegra no site. Os destaques dos stories agregam muitas informações relevantes, como podcasts de literatura feita por mulheres e cantoras independentes/pouco conhecidas. Em fevereiro de 2019, Michelle iniciou o projeto "Autoconhecimento em jornada", no qual promoveu encontros presenciais e virtuais sobre o tema, com foco na obra Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés.


@claricesemarias


Letras Pretas

@letraspretas_


Iniciativa voltada à análise crítica e disseminação de produções literárias, textuais e artísticas cuja autoria é de mulheres negras, com o foco em obras produzidas por autoras brasileiras independentes. Antes do perfil no Instagram, o projeto já existia no blog apoiado por Jarid Arraes, que é vinculado ao projeto de extensão homônimo, chancelado junto à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atualmente, conta com quatro bolsas acadêmicas subsidiadas pela UERJ: bolsas de Extensão, Iniciação à Docência, Estágio Interno Complementar e Proatec. Integrantes do LetrasPretas também roteirizam e apresentam um programa de rádio, produzido em parceria com a Rádio UERJ. Em 2018, a iniciativa recebeu o Prêmio Fernando Sgarbi Lima, na 17ª Semana de Graduação da UERJ.


No dia 19 de março, às 18h30, acontece o IV Quilolo Rio-Bahia nos 21 dias de ativismo contra o racismo: literaturas negras contemporâneas. O evento conta com a participação de Lu Ain-Zaila, Eliana Alves Cruz e Selma Maria da Silva.


@letraspretas_


Mulheres das Letras

@mulheresdasletras


Comandado por Veronica Gurgel e Raquel Torres Gurgel, as Mulheres das Letras estão com um desafio 2020 que contempla autoras asiáticas, africanas, brasileiras, LBTQI+, intelectuais feministas etc. Os posts são facilmente encontrados pela hashtag #exijametadedaestante e as indagações são precisas: “Quantas escritoras tem na sua estante? E na sua livraria preferida? Mulheres são a metade do mundo...”. O feed é bastante organizado, sendo a coluna do meio composta por fotos de escritoras e legendas com suas minibiografias, aproximando, assim, a leitora de escritoras que dificilmente são divulgadas, como Futhi Ntshingila (autora e jornalista sul-africana com dois romances publicados até o momento: Shameless e Sem gentileza). Há também a seção “Mulheres do mês”, na qual mensalmente é divulgada uma escritora diferente, a fim de resgatar sua memória e manter seu nome em voga.


@mulheresdasletras


Mulheres Negras na Biblioteca

@mulheresnegrasnabiblioteca


Em 2018, o projeto foi contemplado pelo edital do Programa para Valorização de Iniciativas Culturais, da Prefeitura de São Paulo, e, durante oito meses, foram feitas diversas mediações de leitura em bibliotecas públicas da Zona Norte da cidade. O encerramento aconteceu na Livraria Africanidades, com o evento “Ações culturais nas bibliotecas como ferramenta de combate à inviabilização de autoras negras”. O coletivo, que possui agenda cultural consistente, continuou disseminando o exercício da leitura compartilhada com o clube de leitura, cujas reuniões permanecem acontecendo em diversas bibliotecas com a finalidade de ocupar e movimentar esses lugares com a leitura e participação ativa de mulheres negras na literatura. Biblioteca Mário de Andrade, Biblioteca Monteiro Lobato e Sesc Campo Limpo são algumas das bibliotecas já ocupadas por essa iniciativa.


@mulheresnegrasnabiblioteca


Nuvem Sapatão

@nuvemsapatao


Iniciativa de Camila Roseno (pesquisadora de trajetórias de professoras lésbicas), Luisa Bitencourt e Nina Lopes, consiste em uma biblioteca online sobre lesbianidades, feminismos e gênero. Hoje, depois de seis meses de sua inauguração, o projeto conta com 163 textos no blog e, além do acervo bibliotecário, há também a seção “Cine Sapa”, atualmente com dezesseis filmes com temática lésbica. A curadoria é da pesquisadora e militante Sabrina Lopes.


@nuvemsapatao


Mães que Escrevem

@revista_maes_que_escrevem


Primeira revista digital independente e colaborativa feita por mulheres mães, idealizada por Jo Melo e lançada em 2017. O projeto foi criado como espaço criativo a ser compartilhado entre mães, formando uma rede de apoio virtual, e o conteúdo não se restringe à literatura. Diversos gêneros textuais são encontrados no feed do Instagram, como receitas culinárias, militância materna, feminismo, contos autorais, desabafos etc. A única exigência é que o texto tenha até trinta linhas, um título e uma minibiografia da autora (caso esta não queira permanecer anônima por motivos pessoais). Há também uma rede de psicólogas disponíveis para atender mães a preço social, online ou presencialmente. No dia 4 de abril, às 14h, na Casa das Mulheres (SP), a iniciativa promoverá o evento "Saúde mental das mães importa – culpa materna", os ingressos já estão à venda no site.


@revista_maes_que_escrevem


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