Minhas mães
quer tenha gente ou não
todos os banquinhos donde repousam
as costas da minha velha
ficam atrás do congar
as giras acontecem
eu te vejo, conversando com os ventos na laje
encostando a cabeça na pedra
de sal
fazendo o teu
e o café dele
sobretudo limpando banheiros
será que sabe-se por aí
70% do trabalho na umbanda é varrer chão
na gira de iansã sempre se leva porrada
spray de lavanda cobre tipo manto
aos 14 você
enterrando são Cipriano
capa preta
no jardim
não vou ficar louca como minha mãe
lendo teu destino em pequenos ossinhos
aprendendo que xamã é chamar
insistindo na palavra fechado
corpo
afastando com sal inconsciente
enterrarei teu corpo
[no extremo sul baiano
aberto
Sem título
hoje imaginei que ia ao pará
chovava todos os rios que correm
penteava os cabelos d’água
encontraria eu os vórtices
cruzes como pequenos inícios
se reatualizando dentro de nós
o grande peso de refazer afrescos
ciborguizar as odisseias infinitas
transformar pompom em coelhos
aprender a malandragem que é esquivar
dos vícios de subordinação na linguagem
enquanto você me come em palavra
te engulo por todas as bocas
_
Isabela Equor tem 24 anos e é graduanda em Relações Internacionais. É pesquisadora das humanidades, aprendiz do ensinar e macumbeira. Seus temas de estudo atualmente são: gênero, poder, erotismo e sexualidade por uma perspectiva dos brasis. Quando cansa das ABNT, escreve poesia, fuma mais tabaco do que deveria e coloca mel e figas de guiné em tudo.
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