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"tem faca de gente nessa casa?": dois poemas de Isabela Equor


A foto é parte de um pequeno trabalho artístico de Bruno Magliari (@brunomagliari) feito a partir das provocações e leitura do "tem faca de gente nessa casa?"

Minhas mães


quer tenha gente ou não

todos os banquinhos donde repousam

as costas da minha velha

ficam atrás do congar

as giras acontecem

eu te vejo, conversando com os ventos na laje

encostando a cabeça na pedra

de sal

fazendo o teu

e o café dele

sobretudo limpando banheiros

será que sabe-se por aí

70% do trabalho na umbanda é varrer chão

na gira de iansã sempre se leva porrada

spray de lavanda cobre tipo manto


aos 14 você

enterrando são Cipriano

capa preta

no jardim

não vou ficar louca como minha mãe

lendo teu destino em pequenos ossinhos

aprendendo que xamã é chamar

insistindo na palavra fechado

corpo

afastando com sal inconsciente


enterrarei teu corpo

[no extremo sul baiano

aberto









Sem título


hoje imaginei que ia ao pará

chovava todos os rios que correm

penteava os cabelos d’água

encontraria eu os vórtices

cruzes como pequenos inícios

se reatualizando dentro de nós

o grande peso de refazer afrescos

ciborguizar as odisseias infinitas

transformar pompom em coelhos

aprender a malandragem que é esquivar

dos vícios de subordinação na linguagem

enquanto você me come em palavra

te engulo por todas as bocas







_

Isabela Equor tem 24 anos e é graduanda em Relações Internacionais. É pesquisadora das humanidades, aprendiz do ensinar e macumbeira. Seus temas de estudo atualmente são: gênero, poder, erotismo e sexualidade por uma perspectiva dos brasis. Quando cansa das ABNT, escreve poesia, fuma mais tabaco do que deveria e coloca mel e figas de guiné em tudo.

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