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Subverter o "girl power" – resenha capítulo 6


© Unsplash

hooks, bell. Teoria feminista: da margem ao centro. São Paulo: Perspectiva, 2019 (1984). Tradução de Rainer Patriota.


O sexto capítulo da obra de hooks traz a proposta de mudar as perspectivas sobre o poder. Normalmente, equiparado à dominação e ao controle, o poder pode assumir uma concepção radicalmente diferente? É possível desafiar a noção vigente de poder como dominação e transformar seu significado?


Se existe alguma possibilidade, não foi dessa vez, pois o ativismo burguês sucumbiu à tentativa de mudar qualquer concepção de poder quando começou a acreditar que a mulher precisava superar o medo pelo poder e ascender socioeconomicamente


O poder foi colocado como um pré-requisito necessário para o sucesso da luta feminista. Essa ambição criou um mito de que as mulheres são diferentes dos homens e que por isso exerceriam um outro tipo de poder, mas hooks afirma que não, pois as mulheres são educadas sob o mesmo sistema de valores que os homens. O poder feminino só seria diferente do poder atual se as mulheres possuíssem um sistema de valores diferente, o que não é ao caso. 


As mulheres podem ganhar poder e prestígio dentro da estrutura existente. O slogan "girl power" está sendo usado para impulsioná-las cada vez mais, desde que, é claro, apoiem essa estrutura e garantam aos homens que sua "masculinidade" não será de modo algum diminuída. Desse modo, os grupos dirigentes masculinos, como hooks chama, arranjam cúmplices para cooptar as reformas feministas a serviço do patriarcado supremacista branco e capitalista. 


Deixando a ingenuidade de lado, as mulheres deveriam criar sistema de valores alternativos que implicassem novos conceitos de poder. Redefinindo-o a partir de novas estratégias organizacionais como tarefas rotativas, consenso, e ênfase na democracia interna. A autora defende que, antes de trabalhar para reconstruir a sociedade, as mulheres precisam rejeitar a noção de que a conquista de poder na estrutura social existente fará avançar a luta feminista para acabar com a opressão sexista.


As mulheres, mesmo as mais oprimidas entre nós, não são destituídas de poder, na verdade, elas até exercitam alguma forma de poder; caso contrário, se não tivessem exercido o poder de rejeitar as definições oferecida pelos poderosos sobre sua realidade, não teriam sido capazes de desenvolver conceitos positivos sobre si mesmas. Ignorar isso é confinar as mulheres ao estigma da passividade. 


Segundo bell hooks, as mulheres, em grande parte, não se dão conta das formas de poder disponíveis a elas e por isso precisam de educação política para perceber que são capazes de exercê-lo, inclusive como arma contra a exploração e opressão sexista. 


_ Carolina Lemos, geógrafa interessada na geopolítica das mulheres, tem 26 anos e estuda estratégias de organização e resistência social de mulheres no território em rede. Sapatão, suburbana e artesã, faz da leitura e da escrita um verdadeiro ato político.

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