Novo livro de poemas da escritora pernambucana Manuella Bezerra de Melo traz um tempero extra: a plaquete Sal
“[É] o sujeito mulher que, nestas páginas, detém um lugar de (justíssimo) centro”, diz a poeta portuguesa Ana Luísa Amaral no posfácio (publicado na Revista Caliban) do novo livro de poemas da pernambucana Manuella Bezerra de Melo, Pra que roam os cães nessa hecatombe. A obra teve seu lançamento oficial no Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços) 2020, com a escritora convidada Micheliny Verunschk. O bate-papo entre Manuella e Micheliny está disponível no canal da Macabéa Edições no YouTube.
Editado e publicado pela Macabéa, o trabalho é, em parte, um exercício de reconciliação da poeta com a própria escrita. Foram revisitados alguns textos de uma obra anterior da autora, já esgotada, para remendá-los dentro de sua nova voz poética, agora em diálogo com outros escritos inéditos, na síntese de uma poesia mais amadurecida e potente. Seus poemas passeiam entre questões internas e subjetivas – mas também universais, próprias da condição humana – e temas sociais e urgentes, como um suspiro depois do susto. Manuella experimenta a linha tênue entre micro e macro, individual e coletivo, de forma visceral e antropofágica, trabalhando a ansiedade, a morbidez, a nostalgia, o medo, os laços afetivos.
Com um forte apelo visual, a obra desvenda em suas páginas “um corpo de mulher atravessado” por palavras e faz, dessa sina, sua sobrevivência para “habitar a possibilidade”, como explicita Ana Luísa Amaral, vencedora do último Prêmio Leteo da Espanha. A também pernambucana Micheliny Verunschk, que assina a quarta capa, destaca uma “indignação em alta voltagem” como recurso para “marcar sua posição diante de um tempo de ruína”. Micheliny e Ana Luísa são apenas duas das muitas mulheres que participaram do processo de produção de Pra que roam os cães nessa hecatombe. No texto de orelha, Susana Fuentes celebra a voz de Manuella Bezerra de Melo por trazer “coragem, faíscas, ruídos, um novo timbre”.
Já a artista visual Camilla Freitas assina a arte da capa e as ilustrações de miolo (reproduções da série Remendar-se, técnica mista sobre tela), capazes de promover um diálogo profundo com o texto e compor a obra enquanto objeto artístico na totalidade. Relacionando a literatura de Manuella Bezerra de Melo e as telas de Camilla Freitas, Ana Luísa Amaral afirma, ainda, “que rasgar o dicionário é também desafiar o já conhecido, a ideologia dominante”, e que se afigura importante, em Pra que roam os cães nessa hecatombe, a “desassombrada assunção de uma voz de mulher, de um corpo de mulher, de imagens de mulher – produzidas por mulheres”.
Residente em Portugal há quatro anos, onde é doutoranda no Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho pelo Programa Doutoral em Modernidades Comparadas: Literaturas, Artes e Culturas, Manuella se dedica à pesquisa sobre poesia brasileira contemporânea. Em 2019 publicou Pés pequenos pra tanto corpo (Editora Urutau) no Brasil, em Portugal e na Galiza (ES), além de ter poemas e contos publicados em revistas brasileiras, portuguesas e latino-americanas.
Pra que roam os cães nessa hecatombe está à venda no Brasil na loja virtual da Macabéa Edições e em livrarias parceiras. A obra acompanha uma plaquete exclusiva intitulada Sal, com quatro poemas inéditos “sobre lonjuras e América Latina”, como explica Manuella Bezerra de Melo. Veja aqui o vídeo da autora com leitura do poema que inspira o título da plaquete.
pra que roam os cães nessa hecatombe | manuella bezerra de melo
2020
ISBN: 978-65-990969-5-2
72 p.
12,5x21cm
R$36,00
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