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Aline Martins: Corda bamba – prosa


© Unsplash

Procurava um abrigo. Demandava por calor humano. Sucumbia à delicadeza dos afetos que lhe incandesciam a alma; dos elos forjados à luz das gentilezas mínimas; das ternuras gratuitas e ainda possíveis em meio a tantas teses egóicas... Convenceu-se, oportunamente, de que qualquer disputa de egos não lhe serviria jamais, pois que a sábia carpintaria das relações humanas faz-se mesmo nas diferenças, e de que o amor, para ser amor, quer-se plural, apartidário, livre de qualquer convenção; autorizado a mutações e a transitar pelo prazer e pela dor sem o constrangimento da culpa; a gerir sua própria natureza, sem parcimônia, e a doar-se. Mesmo à procura de abrigo, de calor humano, a vida lhe chegava branda, brisa. Parecia-lhe penetrar as frestas, os poros, tão agregada estava de sua metafísica; tão franqueada à investigação da Espécie... Sua Espécie, condenada à façanha eterna de equilibrar-se na corda bamba da existência.


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Aline Martins é formada em Direito, poeta e escritora de contos. Natural de Nova Friburgo, mudou-se para o Rio em 1992, onde reside até hoje. Grão, seu primeiro livro de poesias, foi publicado em 2019 pela Macabéa Edições.

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