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Três poemas de Manuella Bezerra de Melo

Atualizado: 20 de abr. de 2020



Fluxo vital


Estou náusea rastejo

entregue a ratos baratas

em mau barato junto às serpentes

Estou asma engasgo

suspiro milímetros dos

micro-ventos que não me passam

da goela nem abaixo nem acima

Estou nervos tre-mulo

sinto nos vasos de sangue corrente

que lá vem vindo novo temporal

Estou chuva e chovo toda água

sem buscar o abrigo

de todo abrigo que já desabado

foi corrente via canaletas


Neura


Neste pasto verde deitada

me devoram formigas e

grilos e insetos de menor porte

permito inofensiva que entrem

ouvidos e pele tapem a respiração

belisquem olhos e arranquem

as gangrenas podres da minha existência

Mais denso e vivo é que te matem

insetos que as cores dos piscas

neuróticos das lojas de departamentos


Transtorno


Viver pode ser

macular lentamente

as próprias vísceras

como as carnes das unhas

mordidas

comidas

sangradas

beliscadas

na beirada dos dedos


_

Manuella Bezerra de Melo, nascida no Recife, é jornalista, escritora e investigadora. Está na antologia Pedaladas poéticas (2017), publicou Desanônima (2017), Existem sonhos na Rua Amarela (2018) e Pés pequenos para tanto corpo (2019). Atualmente dedica-se a um mestrado em Teoria da Literatura e Literaturas Lusófonas na Universidade do Minho, em Portugal.

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