Fluxo vital
Estou náusea rastejo
entregue a ratos baratas
em mau barato junto às serpentes
Estou asma engasgo
suspiro milímetros dos
micro-ventos que não me passam
da goela nem abaixo nem acima
Estou nervos tre-mulo
sinto nos vasos de sangue corrente
que lá vem vindo novo temporal
Estou chuva e chovo toda água
sem buscar o abrigo
de todo abrigo que já desabado
foi corrente via canaletas
Neura
Neste pasto verde deitada
me devoram formigas e
grilos e insetos de menor porte
permito inofensiva que entrem
ouvidos e pele tapem a respiração
belisquem olhos e arranquem
as gangrenas podres da minha existência
Mais denso e vivo é que te matem
insetos que as cores dos piscas
neuróticos das lojas de departamentos
Transtorno
Viver pode ser
macular lentamente
as próprias vísceras
como as carnes das unhas
mordidas
comidas
sangradas
beliscadas
na beirada dos dedos
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Manuella Bezerra de Melo, nascida no Recife, é jornalista, escritora e investigadora. Está na antologia Pedaladas poéticas (2017), publicou Desanônima (2017), Existem sonhos na Rua Amarela (2018) e Pés pequenos para tanto corpo (2019). Atualmente dedica-se a um mestrado em Teoria da Literatura e Literaturas Lusófonas na Universidade do Minho, em Portugal.
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