
Domingos ou família
desosso frangos
para atropelar à cubana
nunca penso nos verões
da minha vó em habana
só nos grandes elogiosos do che
nos grandes críticos do che
nunca contam
onde exilou meu bisavô
uruguai, cuba, algum sítio
ao professor católico de teatro
devo muitos filmes sobre resistir
mamãe escrevia, 1996
da barriga me prometia ao mar
talvez já fosse eu, um tanto
rosinha da praia
erê de água
comedora de caroço de manga
desisto dos frangos
lavo cogumelos
preparo ao molho de escargots
faço francês
você mistura com feijão
*
Revanchismo
carranca feita da despromessa
ao príncipe do oriente restou
fatias de bolo francês, imperialismo
e um péssimo tradutor de inglês-arabê
quisera eu ter visto o falante inconveniente
lawrence
1,50m
nas telas do exotismo americano
panos esvoaçantes e perfeito delineado
em paisagens ocre e terracota
no sabão orientalismo by phebo
por baixo
tudo é feito de vidros quebrados
damascos
a construção civil refundante
da partilha, revanchismo
um troca troca entre gerações gregas e turcas
deslocadas
enquanto você passa o bife
honey, honey
ouvindo contos de amor
numa rádio que jamais falaria:
limpeza étnica
eu bem queria uma cigana com 7 lindos panos
cortando o entre-guerras
manejando águas identitárias
na ponta de ares da diástase
pintando cores
em canhões europeus
eu bem queria soraya, estrela dourada
enfeitiçando romãs
enganando a razão
_
Isabela Equor tem 24 anos e é graduanda em Relações Internacionais. É pesquisadora das humanidades, aprendiz do ensinar e macumbeira. Seus temas de estudo atualmente são: gênero, poder, erotismo e sexualidade por uma perspectiva dos brasis. Quando cansa das ABNT, escreve poesia, fuma mais tabaco do que deveria e coloca mel e figas de guiné em tudo.
sou fã ♥️