Aline Martins semeia cinzas em seu primeiro livro de poemas
Com uma escrita metódica mas repleta de criatividade, Aline Martins, poeta de longa data, estreia com Grão, lançado pela Macabéa Edições.
Nessa obra, a autora aborda o transformar-se como uma característica inerentemente humana, seja essa transformação vista a olho nu, como a metáfora contida em “Exílio”, seja mais sutil, como em “Sacerdócio”, seja pela ruptura com o simbolismo de cinzas – que se despem da noção de finitude para espalharem-se e semearem do prelúdio ao poslúdio.
Ao recorrer a um conjunto lexical expressivo, norteado por alusões ao concreto do mundo, Aline escreve como quem entalha uma cerâmica. A cada página, seu estilo cortante provoca uma sensação inquietante de estranhamento e curiosidade.
Muito atenta às questões de seu tempo, a autora tangencia temas bem atuais, como em “Comunhão”, tratando da sexualidade feminina centrada no próprio toque, com uma provocação conduzida pelo deslocamento de sentido do termo “comungar” e pela ideia de que a liberdade pressupõe certa profanação.
Em “Natureza morta”, dá a entender que o corpo feminino por si só como objeto de desejo é tanto menos interessante quanto mais efêmero do que a palavra, esta aparecendo como síntese não só do fazer literário, mas do que possibilita às relações.
Enxergando a poesia como um exercício contínuo de diferentes possibilidades e novos encaixes, ao articular alegorias sólidas com aspectos comoventes – como amar, sentir saudades, reinventar-se –, Aline nos convida a experimentar, a descobrir sua obra.
grão | aline martins
2019
ISBN: 978-85-93637-13-1
54 p.
R$25,00
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