Pôr ao causo
Queria poracaso
alguém que esbarrasse o cotovelo na tela
dando clique no verde
o celular no bolso
da bunda
disca meu número
queria
que me colocassem numa lista de e-mail
que eu não deveria estar
pra receber uns textos de curso estranho
ou de grupo de amigos
que nunca conheci
queria que porcaso alguém enviasse
uma torta de chocolate pelo uber eats
e por descuido
chocasse no foguinho
respondendo no instagram
e se poracaso
mandasse um meme
encaminhado no whats app
ou curtir uma foto
na hora
que era só pra passar
e se mandassem
um nude pelo direct
numa terça à noite
quando se manda nudes pra uma lista de pessoas
e porcaso
você clica no nome
daquela
rola a dúvida
e aí você pensa: ok.
tenho 5 segundos
*
Tem faca de gente nessa casa?
Entre-olvido
em quartos
"as nossas onças conversaram hoje"
Alguém esqueceu
de esquentar o carvão
O gato bebeu
a água da firmeza
do caboclo
cercada
lua cheia
meia noite
duas dezenas de onças
sitiaram a cidade do rio de janeiro
nunca ouviu falar da bárbara dos prazeres?
Foi ela
que que isso tem a vê com a onças?
Foi ela
seus olhos
no arco do teles:
"leoa que acabou de parir"
*
Ossos da urbanização
me contaram sobre um tal
"cemitério da saudade"
coberto
por água – ressaca
por terra – aterrar
hoje, Urca.
mas diga
existe algum cemitério
que não seja da saudade?
*
Brincadeiras das quais é impossível sair ileso
1. Lista:
– comprar romãs
Experimentar
– colocar uma roupa branca
– comer uma romã
o pomo
a maçã dourada
amarela vermelha
– se lambuzar
– traçar os caminhos das notas sanguíneas
no corpo
como flores estriadas
do sangue de Hilst
2. Aprender a morrer
– boiar no mar
– sono sem sonhos
À moda socrática
– anestesia geral
– tomar alucinógenos
– gozar
Ser
sim
porém estraçalhado
convertido em espuma
pelas sereias da Odisseia
_
Isabela Equor tem 24 anos e é graduanda em Relações Internacionais. É pesquisadora das humanidades, aprendiz do ensinar e macumbeira. Seus temas de estudo atualmente são: poder, erotismo e sexualidade por uma perspectiva dos brasis. Quando cansa das ABNT, escreve poesia, fuma mais tabaco do que deveria e coloca mel e figas de guiné em tudo.
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