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Foto do escritorIsabela Equor

"Aprender a morrer": quatro poemas de Isabela Equor


© Isabela Equor

Pôr ao causo

Queria poracaso

alguém que esbarrasse o cotovelo na tela

dando clique no verde

o celular no bolso

da bunda

disca meu número

queria

que me colocassem numa lista de e-mail

que eu não deveria estar

pra receber uns textos de curso estranho

ou de grupo de amigos

que nunca conheci

queria que porcaso alguém enviasse

uma torta de chocolate pelo uber eats

e por descuido

chocasse no foguinho

respondendo no instagram

e se poracaso

mandasse um meme

encaminhado no whats app

ou curtir uma foto

na hora

que era só pra passar

e se mandassem

um nude pelo direct

numa terça à noite

quando se manda nudes pra uma lista de pessoas

e porcaso

você clica no nome

daquela

rola a dúvida

e aí você pensa: ok.

tenho 5 segundos


*

Tem faca de gente nessa casa?

Entre-olvido

em quartos

"as nossas onças conversaram hoje"

Alguém esqueceu

de esquentar o carvão

O gato bebeu

a água da firmeza

do caboclo

cercada

lua cheia

meia noite

duas dezenas de onças

sitiaram a cidade do rio de janeiro

nunca ouviu falar da bárbara dos prazeres?

Foi ela

que que isso tem a vê com a onças?

Foi ela

seus olhos

no arco do teles:

"leoa que acabou de parir"


*


Ossos da urbanização


me contaram sobre um tal

"cemitério da saudade"

coberto

por água ressaca

por terra aterrar

hoje, Urca.

mas diga

existe algum cemitério

que não seja da saudade?


*


Brincadeiras das quais é impossível sair ileso


1. Lista:

comprar romãs

Experimentar

colocar uma roupa branca

comer uma romã

o pomo

a maçã dourada

amarela vermelha

se lambuzar

traçar os caminhos das notas sanguíneas

no corpo

como flores estriadas

do sangue de Hilst


2. Aprender a morrer

boiar no mar

sono sem sonhos

À moda socrática

anestesia geral

tomar alucinógenos

gozar

Ser

sim

porém estraçalhado

convertido em espuma

pelas sereias da Odisseia


_

Isabela Equor tem 24 anos e é graduanda em Relações Internacionais. É pesquisadora das humanidades, aprendiz do ensinar e macumbeira. Seus temas de estudo atualmente são: poder, erotismo e sexualidade por uma perspectiva dos brasis. Quando cansa das ABNT, escreve poesia, fuma mais tabaco do que deveria e coloca mel e figas de guiné em tudo.

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